Agora que o presidente americano Barack Obama se posicionou oficialmente a favor do “casamento” gay (eu coloco a palavra casamento entre parênteses porque a idéia de casamento é entre pessoas de sexo oposto, assim, seu uso no contexto homossexual não faz sentido), o que não foi surpresa pra ninguém, muito mais gente vai se posicionar a favor também. Muito pode ser debatido sobre isso e já o fizemos aqui no blog. Temos argumentos tanto bíblicos como seculares que nos levam a uma oposição à instituição do “casamento” gay como algo reconhecido pelo governo. Os mais fortes de nossos argumentos se baseiam nas Escrituras, já que a Bíblia claramente define casamento como a união entre um homem e uma mulher (Mateus 19:4) e condena o comportamento homossexual (1 Coríntios 6:9). Exatamente por isso, o principal ataque que vamos ver para diminuir nossa oposição é contra a Bíblia.
Um que tenho visto por aí, que tem ganhado fôlego nos Estados Unidos, vem na forma de silogismo e diz assim:
- Uma leitura literal da Bíblia leva ao entendimento que o homossexualismo é errado.
- Uma leitura literal da Bíblia levou à escravidão nas Américas.
- Portanto, não devemos ler a Bíblia de forma literal.
Esse silogismo tem um peso retórico forte porque ele associa a Bíblia à terrível escravatura que aconteceu nas Américas. Mas, quando analisado com mais calma, podemos ver que existem várias falhar nesse pensamento.
O primeiro problema com esse argumento é que a conclusão não se segue às premissas. Supondo que a segunda premissa seja verdadeira (que não é, mas vamos cuidar disso mais tarde), o fato que a leitura literal de um ponto das Escrituras possa ter levado a algo tão terrível quanto a escravidão não faz com que toda a leitura literal as Escrituras seja maligna. Aliás, foi pela leitura literal das Escrituras que muitas coisas boas foram feitas pela humanidade. Escolas, orfanatos, hospitais, cuidado com os pobres, preservação de idiomas que hoje seriam extintos, associações de caridade, ajuda humanitária, pesquisa, a própria invenção do livro, a ciência como um todo, tudo isso e muito mais foi fruto de homens e mulheres que leram e aplicaram as Escrituras à suas vidas de forma literal. A parte de tudo isso, talvez o que a Bíblia nos informa sobre o homossexualismo seja verdadeiro. Esse argumento sofre de raciocínio circular porque ele usa como argumento aquilo que se está tentando defender. Ele já considera que a Bíblia está errada sobre o comportamento homossexual, assim como ela está supostamente errada em relação à escravidão. Portanto, a conclusão não se segue às premissas, sendo assim, o argumento é errado e falacioso.
Mas temos outro ponto interessante. Quem afirma a segunda premissa, que a leitura literal da Bíblia levou à escravidão nas Américas, ou desconhece o que a Bíblia diz sobre escravidão, ou desconhece o que foi a escravidão nas Américas. Você pode ler sobre a Bíblia e a escravidão em mais detalhes aqui, mas resumidamente, o que a Bíblia regulava e que nós chamamos de escravidão foi bastante diferente do que aconteceu nas Américas. A escravidão na Bíblia era em sua grande maioria por dívida, o escravo tinha que ser tratado como funcionário contratado, deveria ser liberado ao término de 7 anos, escravidão permanente deveria ser voluntária, a venda de seres humanos era proibida e se um escravo fosse ferido, ele deveria ser solto. Veja aqui os slides da apresentação sobre a escravidão e a Bíblia com as referências aos textos acima.
Se os colonizadores das Américas tivessem lido a Bíblia de forma literal (e a tivessem seguido), a escravidão nas Américas jamais teria acontecido ou pelo menos seria algo bem menos grave.
É por isso (e muitos outros motivos) que o cristão precisa conhecer as Escrituras, conhecer o texto como um todo, mas também precisa estar pronto para defender a Bíblia como Palavra de Deus. Se a Bíblia realmente for a Palavra de Deus, poderemos usá-la como autoridade para aquilo que é certo ou não. Se não for, então, nada mais precisa ser dito e cada um faz o que bem entender. Ninguém terá a obrigação de seguir a moralidade de ninguém, seja a que é a favor ou a que é contra o homossexualismo.
Enquanto isso, vamos continuar vendo argumentos ruins sendo lançados no meio do debate. Onde falta lógica, sobra retórica.
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