
Religião é um assunto recorrente nas revistas sobre ciência, como a SUPERINTERESSANTE ou a Globo Ciência. E o segundo tópico preferido é a Bíblia (o primeiro é Jesus, como eles sempre descobrem coisas novas sobre Jesus que vai mudar a forma como vemos o Filho de Deus e blá, blá, blá). Nesse mês de Dezembro, a SUPER se lança no desafio de definir quem escreveu a Bíblia. E como em todas as outras reportagens sobre religião (especialmente o Cristianismo), promete “mudar sua maneira de ver as Escrituras”.
Um bom resumo desse artigo diz no final das contas a Bíblia não foi escrita por quem acreditamos que foi, ela é muito mais recente do que imaginamos, ela foi alterada várias vezes a bel prazer do teólogo de plantão e mesmo nas traduções, encontramos erros e divergências. E para coroar todas essas afirmações a reportagem termina com a seguinte declaração: “Hoje, os principais estudiosos afirmam que a Bíblia não deve ser lida como um manual de regras literais – e sim como o relato da jornada, tortuosa e cheia de percalços, do ser humano em busca de Deus. Porque esse é, afinal, o verdadeiro sentido dessa árvore de histórias regadas há 3 mil anos por centenas de mãos, cabeças e corações e corações humanos: a crença num sentido transcendente da existência” (enfase acrescentada).
Quando fazemos evangelismo, sempre nos deparamos com esse argumento: a Bíblia é um livro escrito por homens; ela está cheia de contradições; está cheia de erros; ela foi manipulada; adulterada... o que você faz nessas situações? Como responder a essas objeções? Você sabe defender sua fé nas Escrituras como revelação de Deus para o homem?
Pretendo apresentar de forma sucinta nesse post a razão de nossa fé nas Escrituras como Palavra de Deus em comparação com o artigo da SUPER. Essas informações sempre me são úteis nos evangelismo. Espero que também seja útil para você. Vamos lá.
Toda vez que vamos abordar algum assunto, sempre partimos de um pressuposto. É impossível alguém iniciar uma pesquisa se dizendo neutro. Por mais que muitos aleguem isso, sempre temos um pressuposto. Eu iniciei esse post com um pressuposto: a Bíblia foi escrita por Deus e é verdadeira em suas afirmações. Portanto, todo esse texto vai trabalhar nesse sentido. Isso quer dizer que eu vou manipular os dados? Não, mas demonstra que eu tenho um pressuposto. A reportagem da SUPER também parte de um pressuposto: a Bíblia foi escrita por homens e manipulada durante os anos. Assim, informações em contrário acabam sendo ignoradas e o foco acaba sendo tudo aquilo que pode confirmar esse pressuposto, mesmo não fazendo sentido algum. Todos possuímos um pressuposto, só não podemos manipular a verdade em prol do mesmo.
O artigo começa questionando a autoria dos textos, de uma forma diferente da que defende a igreja. Na verdade, ao invés de possuírem um autor definido e identificável, na maioria das vezes, o Velho Testamento deriva de lendas de vários povos em Canaã. Como exemplo citam a lenda de Gilgamesh, uma lenda sobre o diluvio, bastante parecida com a historia de Noé. Afirmam que a lenda de Gilgamesh deu origem a história de Noé. Mas algo que eles falham em perceber é que em critica literária, quando duas historias são parecidas, via de regra a mais simples é a mais antiga. Quando se compara as duas lendas, percebe-se nitidamente que a de Noé é mais simples e a de Gilgamesh mais complexa. É muito mais provável que a versão bíblica seja mais antiga.
A autoria de Moisés para todo o Pentateuco é questionada no artigo. A principal razão para isso é que aparentemente existem vários estilos dentro do texto mosaico, por exemplo, em alguns momentos Deus e chamado de Javé e em outros de Elohim. Alem disso, o texto apresenta um monoteísmo que não existia na época de Moisés e um sistema legislativo incompatível com a época Por isso, acreditam que esses textos foram escritos em 4 períodos diferentes, todos muito depois de Moisés. Essa é uma teoria antiga, que recebeu seus toques finais por Julius Wellhausen em 1895. É chamada de Hipótese Documentaria ou hipótese JEDP e ainda hoje é muito aceita, sendo citada no artigo como consenso. Na verdade essa teoria como um todo parte de um pressuposto que sem o mesmo, toda a teoria entra em colapso: não houve revelação divina, Deus jamais implantou o monoteísmo e jamais falou com Moisés. Alguns pontos que não são considerados pelos defensores dessa teoria:
1- Não existe nenhuma prova documental que sustente essa teoria, ela é baseada única e exclusivamente em especulações Não existem manuscritos, relatos, absolutamente nada que possa levar a considerar essa hipótese como verdadeira.
2-Mesmo entre os autores dessa teoria existe uma enorme dificuldade de se definir qual texto pertence a qual dos autores, pois baseia-se em algo totalmente subjetivo. Hora parte que é considerada jeovista, hora é considerada eloísta.
3-A grande maioria dos achados arqueológicos do últimos seculos demonstra que o autor do Pentateuco possuía um grande conhecimento da cultura da época de Moisés Por exemplo, achados sobre a cultura dos heteus mostram que o relatos de Gênesis 23 são verdadeiros e somente alguém que teve contato com os heteus poderia ter tamanho conhecimento. Os heteus ainda estavam perambulando por aquela região na época de Moisés
4- Sabe-se hoje em que o monoteísmo é muito mais antigo do que imaginávamos. Achados arqueológicos datam os primeiros movimentos monoteístas para a época de Moisés.
5- A descoberta de varies códigos legislativos até anteriores ao mosaico demonstra que é totalmente plausível o desenvolvimento das leis conforme no Pentateuco.
6- Moisés declara autoria do texto (Exo 17:14; Num 33:2) e Jesus também afirma que Moisés escreveu a Lei (Mat 8:4).
Nenhum dos fatores acima é levado em consideração pelo artigo. Um outro motivo apresentado para negar a autoria mosaica é que Deuteronômio descreve a morte de Moisés e todos concordamos que ele jamais poderia ter escrito essa parte. Por isso o artigo descarta a autoria de Moisés de todo o texto. Com certeza outra pessoa escreveu essa parte, provavelmente o autor de Josué. Mas isso não é razão suficiente para negar a autoria mosaica. O parágrafo seguinte diz que a crueldade aparente de Deus no Velho Testamento é devida as lutas que os autores bíblicos enfrentavam com povos vizinhos, ele estavam "extravasando sua angústia". Aqui o grande problema é uma visão distorcida de quem Deus é. Deus se apresenta como amoroso nas Escrituras mas esse não é seu maior atributo. Repetidas vezes Deus declara que Ele é justo e não tolera o pecado e que irá julgar a humanidade. Quando Deus mandou Israel aniquilar os povos vizinhos, Ele estava agindo com justiça sobre esses povos, pois eram pecadores. A bondade de Deus se revela ao homem na pessoa de Jesus Cristo. Isso poucas pessoas querem entender.
Com a finalização da cânone hebraico, inicia-se a formação do cristão Uma coisa para que achei engraçada no artigo foi o comentário do teólogo Paulo Nogueira para a motivação que levou os cristão a escrever o Novo Testamento: "os cristãos queriam compreender suas origens e debater seus problemas de identidade". Fico imaginando pobres cristãos pensando sobre sua identidade mau formada enquanto aguardavam para serem devorados pelos leões! Não, grande parte do Novo Testamento foi escrito para defender o cristianismo de heresias que estavam se infiltrando na igreja. Isso não é debater sua identidade, mas defender os ensinos que Deus revelou através dos apóstolos. Eu acredito plenamente que uma pessoa que tem coragem de morrer por suas crenças, morrer uma morte terrível, já tem sua identidade bem formada. Mais uma vez, o pressuposto de que a Bíblia não é uma revelação de Deus, mas simplesmente um livro escrito por homens determina todas as conclusões neste artigo.
Uma alegação muito comum sobre o Novo Testamento é que, já que não possuímos os originais dos autores bíblicos, as copias que possuímos estão cheias de erros, pois por terem sido copiadas a mão, aqueles que faziam as copias alteravam o texto, seja por erros, seja propositalmente.
Um pouco de informação e sempre útil aqui. Temos mais de 5 mil manuscritos gregos dos primeiros seculos do Novo Testamento. Só para se ter noção da importância desse numero, os 6 mais influentes e importantes livros da antiguidade juntos possuem menos de mil manuscritos. E se acrescentar os manuscritos em outras línguas, temos mais de 25 mil cópias. Eles concordam em 95% do texto, o que já e admirável levando-se em consideração que eram copiados a exaustão. Os 5% discordantes se referem em sua grande maioria à ordem de palavras (Cristo Jesus ao invés de Jesus Cristo, por exemplo) e em nenhum momento essas diferenças possuem qualquer influência sobre doutrinas centrais do cristianismo.
Se somente isso não fosse suficiente, mesmo que não possuíssemos tantos manuscritos seria possível reconstruir todo o Novo Testamento a partir dos textos dos pais da igreja, que citavam constantemente os textos que já eram reconhecidos como Escrituras no primeiro e segundo seculos.
Alega-se no artigo que o texto da mulher adultera do evangelho de João foi inserido por um escriba no seculo 3. O motivo para essa colocação é porque nesse período o cristianismo estava se distanciando do judaísmo, então era importante que eles se distanciassem da lei mosaica, que diz que uma adultera deve ser apedrejada. Não existe prova disso. Esse texto não consta em muitos manuscritos e em outros ele está deslocado, colocado em outro lugar. Mas não somente a parte da mulher adúltera, mas todo o texto anterior, que vai de João 7:53 ate 8:11. É possível que esse texto não faça parte do original, mas não temos prova disso, já que alguns manuscritos trazem esse texto. Também é possível que esse texto fizesse parte de uma tradição oral. Mesmo que esse texto não tenha feito parte do original, o que não temos certeza, não podemos afirmar quando foi inserido nem por quem e muito menos o porque, já que qualquer conclusão nesse sentido é totalmente especulativa. Além disso, existe algo que muitos pesquisidores ignoram (por causa de seu pressuposto): Jesus mesmo afirmou que não veio para destruir a Lei, mas para cumpri-la. Por que então Jesus não deixou que aqueles homens apedrejassem a mulher adultera? Porque a Lei possuiu uma única razão, mostrar o quanto somos pecadores e aqueles homens que queriam apedrejá-la se achavam justos. Quando viram, pela mesma Lei que queriam usar para condenar a mulher, que eram tao pecadores quanto ela, não puderam mais continuar.
A formação do Cânone é normalmente mal representada nas revistas e livros, especialmente aqueles que negam a autoria divina da Bíblia. Via de regra alegam que foi um ato do imperador Constantino no concílio de Nicéia e ali pela primeira vez tivemos a lista dos 27 livros. O artigo da SUPER traz pelo menos uma novidade, a historia de Marcião e como ele editou a primeira versão do Novo Testamento, bastante diferente da nossa. Mas como ele era um gnóstico e o gnosticismo foi declarado heresia em 170 AD, ele foi excomungado.
O cânone cristão foi ganhando forma nos três primeiros seculos e foi autenticado pela igreja como um todo no concílio de Nicéia, mas a lista não era nova e não ficaram decidindo o que deveria ou não entrar arbitrariamente. É importante lembrar que os principais livros já estavam definidos pois a igreja como corpo ia compartilhando uma com a outra os texto que possuíam. Uma das convenções que a igreja adotou muito antes de Nicéia foi que para ser considerado como escritura, o texto deveria ter sido escrito por um apóstolo ou sob a orientação de um. Por isso os quatro evangelhos que conhecemos foram facilmente aceitos. Mateus e João escritos diretamente pelos apóstolos e Lucas e Marcos sob a orientação de um apóstolo (Paulo e Pedro, respectivamente). Atos e as cartas paulinas foram rapidamente adicionadas como Escrituras. Um outro critério era que o texto pretendente a ser considerado inspirado deveria ter sido escrito pouco tempo depois de Cristo. Por isso nenhum escrito depois do primeiro século (ou melhor dizendo, apos a morte dos apóstolos) foi aceito. Já ao final do primeiro século, uma boa parte do cânone cristão já estava definido. E as Escrituras hebraicas sempre fizeram parte desse cânone. E mais uma coisa importante, o gnosticismo não foi declarado heresia somente em 170, na verdade João já combatia essa heresia, como podemos confirmar em 1 João onde diz que todo aquele que nega que Cristo veio em carne não é de Deus. O gnosticismo pregava que Cristo não tinha vindo em carne, porque a carne representa o mau.
Quando o concílio de Nicéia se reuniu em 325, poucas dúvidas haviam sobre quais livros estariam oficialmente no que temos hoje como Novo Testamento. Alias, a principal razão para a convocação do concílio não era nem estabelecer o cânone, mas sim lidar com a questão Ariana, uma heresia que o bispo Ario estava espalhando, dizendo que Cristo havia sido criado por Deus, não sendo eterno como o Pai. Ario foi chamado para explicar sobre essa questão e como não se arrependeu por ensinar heresias, foi excomungado. Ali se criou o credo de Atanásio, uma linda declaração de fé que todo cristão deveria ler ao menos uma vez na vida. Na verdade, a lista com os 27 livros foi definida por Atanásio em 365 e confirmada no concílio de Constantinopla em 381.
A autoria de Paulo sobre um trecho de uma de suas cartas é questionada porque o texto parece ser bem machista e Paulo viveu em uma época que o cristianismo era bastante favorável para com as mulheres. Mais uma vez, a especulação e o pressuposto (sempre ele) definem a autoria de um texto. Duas coisas a considerar: primeiro, Paulo era fariseu antes de se converter e para os fariseus a mulher era menos do que um ser humano. O testemunho de uma mulher, por exemplo valia metade do testemunho de um homem (interessantemente, mesmo sabendo disso, Jesus primeiro apareceu para mulheres quando ressuscitou. E tem gente que diz que a Bíblia e machista...). Segundo, em outros texto Paulo compara a relação Cristo/igreja com a relação marido/esposa sendo homem como Cristo e a mulher como a igreja. O homem tem autoridade sobre a mulher como Cristo tem sobre a igreja e o homem deve amar a mulher como Cristo ama a igreja, a ponto de morrer por ela. Isso e machismo?
Uma questão importante que o texto traz é a questão da tradução e existe uma tendência no texto a dizer que a Bíblia foi traduzida de forma errada ou ao gosto do teólogo de plantão. É verdade que algumas traduções são bastante tendenciosas, mesmo algumas modernas (creio que a maior de todas é a Tradução do Novo Mundo das Testemunhas de Jeová) mas uma coisa é ser tendencioso, outra coisas é buscar ao máximo o verdadeiro significado de um texto. E é aqui que o texto novamente erra (ou age de forma tendenciosa). Um exemplo é a palavra metanóia, que foi traduzida na Vulgata como penitência e que Lutero traduziu como arrependimento (reviravolta no artigo da SUPER). Etimologicamente falando, metanóia quer dizer “voltar atrás”, “mudança de caminho ou de oponião”. Ela sempre teve essa conotação nos escritos da antiguidade. Traduzi-la por arrependimento (ou mesmo reviravolta) faz mais sentido se observarmos a raiz da palavra e o conjunto dos ensinos do Novo Testamento do que a palavra penitência. O grande William Tyndale traduziu a palavra ecclesia por congregação, ao invés de igreja e segundo o artigo foi queimado por isso. Na verdade, o fato de ter feito a tradução foi o que o levou para a fogueira, pois isso era totalmente proibido. Ecclesia pode ser traduzida tanto por igreja quanto por congregação, já que possuem o mesmo significado. Ecclesia quer dizer ajuntamento de pessoas, reunião, aqueles que são chamados para se unirem. Aproveitando, pesquisem sobre Tyndale, a historia desse cristão é fantástica!
O artigo termina com o questionamento sobre como devemos traduzir a Bíblia e como devemos lê-la. Devemos seguir o literalismo e voltar as antigas práticas do VT ou devemos ter uma visão mais alegórica, como um livro sobre a jornada do homem em busca de Deus? O que vai definir a minha abordagem das Escrituras é a minha crença sobre sua inspiração. Se a Bíblia é a palavra de Deus para o homem, na qual ele se revela e revela sua vontade para todo nos, então, eu vou lê-la como um todo e como um todo obedecê-la. Isso quer dizer que devo sair por ai apedrejando adúlteras? Não, isso quer dizer duas coisas: primeiro, eu não vou ficar pensando “o que esse texto quer dizer para mim”, não, já que a Bíblia é a revelação de Deus para o homem eu vou lê-la e buscar entender o que o texto significa para seu autor. O que Deus quis dizer naquele texto? Como os leitores originais entendiam esse texto? É assim que eu devo entendê-lo. Isso é regra de hermenêutica numero 1. Segundo, estamos sob uma nova aliança e todo o Velho Testamento deve ser interpretado através do Novo. Cristo cumpriu a Lei por nós, por isso não estamos atrelados a ela. Precisamos ter nossa soteriologia bem definida para poder ler as Escrituras e fazer o que ela diz. Minha sugestão, compre um bom livro de hermenêutica. Vai ter fazer maravilhas.
Tenho a mais absoluta certeza que esse não é o ultimo artigo a atacar a autoria divina das Escrituras. Periodicamente vamos ser abordados sobre isso, especialmente aqueles que compartilham sua fé e fazem evangelismo nas ruas. Mas é importante que estejamos prontos para dar a razão de nossa fé e estejamos preparados, pois não cremos em um conto de fadas sem fundamentos, mas sim em um Deus que se revelou para a humanidade através das Escrituras. Meu irmão, tenha certeza que a Bíblia é a palavra de Deus.
Espero sinceramente que esse post tenha ajudado.
Um bom resumo desse artigo diz no final das contas a Bíblia não foi escrita por quem acreditamos que foi, ela é muito mais recente do que imaginamos, ela foi alterada várias vezes a bel prazer do teólogo de plantão e mesmo nas traduções, encontramos erros e divergências. E para coroar todas essas afirmações a reportagem termina com a seguinte declaração: “Hoje, os principais estudiosos afirmam que a Bíblia não deve ser lida como um manual de regras literais – e sim como o relato da jornada, tortuosa e cheia de percalços, do ser humano em busca de Deus. Porque esse é, afinal, o verdadeiro sentido dessa árvore de histórias regadas há 3 mil anos por centenas de mãos, cabeças e corações e corações humanos: a crença num sentido transcendente da existência” (enfase acrescentada).
Quando fazemos evangelismo, sempre nos deparamos com esse argumento: a Bíblia é um livro escrito por homens; ela está cheia de contradições; está cheia de erros; ela foi manipulada; adulterada... o que você faz nessas situações? Como responder a essas objeções? Você sabe defender sua fé nas Escrituras como revelação de Deus para o homem?
Pretendo apresentar de forma sucinta nesse post a razão de nossa fé nas Escrituras como Palavra de Deus em comparação com o artigo da SUPER. Essas informações sempre me são úteis nos evangelismo. Espero que também seja útil para você. Vamos lá.
Toda vez que vamos abordar algum assunto, sempre partimos de um pressuposto. É impossível alguém iniciar uma pesquisa se dizendo neutro. Por mais que muitos aleguem isso, sempre temos um pressuposto. Eu iniciei esse post com um pressuposto: a Bíblia foi escrita por Deus e é verdadeira em suas afirmações. Portanto, todo esse texto vai trabalhar nesse sentido. Isso quer dizer que eu vou manipular os dados? Não, mas demonstra que eu tenho um pressuposto. A reportagem da SUPER também parte de um pressuposto: a Bíblia foi escrita por homens e manipulada durante os anos. Assim, informações em contrário acabam sendo ignoradas e o foco acaba sendo tudo aquilo que pode confirmar esse pressuposto, mesmo não fazendo sentido algum. Todos possuímos um pressuposto, só não podemos manipular a verdade em prol do mesmo.
O artigo começa questionando a autoria dos textos, de uma forma diferente da que defende a igreja. Na verdade, ao invés de possuírem um autor definido e identificável, na maioria das vezes, o Velho Testamento deriva de lendas de vários povos em Canaã. Como exemplo citam a lenda de Gilgamesh, uma lenda sobre o diluvio, bastante parecida com a historia de Noé. Afirmam que a lenda de Gilgamesh deu origem a história de Noé. Mas algo que eles falham em perceber é que em critica literária, quando duas historias são parecidas, via de regra a mais simples é a mais antiga. Quando se compara as duas lendas, percebe-se nitidamente que a de Noé é mais simples e a de Gilgamesh mais complexa. É muito mais provável que a versão bíblica seja mais antiga.
A autoria de Moisés para todo o Pentateuco é questionada no artigo. A principal razão para isso é que aparentemente existem vários estilos dentro do texto mosaico, por exemplo, em alguns momentos Deus e chamado de Javé e em outros de Elohim. Alem disso, o texto apresenta um monoteísmo que não existia na época de Moisés e um sistema legislativo incompatível com a época Por isso, acreditam que esses textos foram escritos em 4 períodos diferentes, todos muito depois de Moisés. Essa é uma teoria antiga, que recebeu seus toques finais por Julius Wellhausen em 1895. É chamada de Hipótese Documentaria ou hipótese JEDP e ainda hoje é muito aceita, sendo citada no artigo como consenso. Na verdade essa teoria como um todo parte de um pressuposto que sem o mesmo, toda a teoria entra em colapso: não houve revelação divina, Deus jamais implantou o monoteísmo e jamais falou com Moisés. Alguns pontos que não são considerados pelos defensores dessa teoria:
1- Não existe nenhuma prova documental que sustente essa teoria, ela é baseada única e exclusivamente em especulações Não existem manuscritos, relatos, absolutamente nada que possa levar a considerar essa hipótese como verdadeira.
2-Mesmo entre os autores dessa teoria existe uma enorme dificuldade de se definir qual texto pertence a qual dos autores, pois baseia-se em algo totalmente subjetivo. Hora parte que é considerada jeovista, hora é considerada eloísta.
3-A grande maioria dos achados arqueológicos do últimos seculos demonstra que o autor do Pentateuco possuía um grande conhecimento da cultura da época de Moisés Por exemplo, achados sobre a cultura dos heteus mostram que o relatos de Gênesis 23 são verdadeiros e somente alguém que teve contato com os heteus poderia ter tamanho conhecimento. Os heteus ainda estavam perambulando por aquela região na época de Moisés
4- Sabe-se hoje em que o monoteísmo é muito mais antigo do que imaginávamos. Achados arqueológicos datam os primeiros movimentos monoteístas para a época de Moisés.
5- A descoberta de varies códigos legislativos até anteriores ao mosaico demonstra que é totalmente plausível o desenvolvimento das leis conforme no Pentateuco.
6- Moisés declara autoria do texto (Exo 17:14; Num 33:2) e Jesus também afirma que Moisés escreveu a Lei (Mat 8:4).
Nenhum dos fatores acima é levado em consideração pelo artigo. Um outro motivo apresentado para negar a autoria mosaica é que Deuteronômio descreve a morte de Moisés e todos concordamos que ele jamais poderia ter escrito essa parte. Por isso o artigo descarta a autoria de Moisés de todo o texto. Com certeza outra pessoa escreveu essa parte, provavelmente o autor de Josué. Mas isso não é razão suficiente para negar a autoria mosaica. O parágrafo seguinte diz que a crueldade aparente de Deus no Velho Testamento é devida as lutas que os autores bíblicos enfrentavam com povos vizinhos, ele estavam "extravasando sua angústia". Aqui o grande problema é uma visão distorcida de quem Deus é. Deus se apresenta como amoroso nas Escrituras mas esse não é seu maior atributo. Repetidas vezes Deus declara que Ele é justo e não tolera o pecado e que irá julgar a humanidade. Quando Deus mandou Israel aniquilar os povos vizinhos, Ele estava agindo com justiça sobre esses povos, pois eram pecadores. A bondade de Deus se revela ao homem na pessoa de Jesus Cristo. Isso poucas pessoas querem entender.
Com a finalização da cânone hebraico, inicia-se a formação do cristão Uma coisa para que achei engraçada no artigo foi o comentário do teólogo Paulo Nogueira para a motivação que levou os cristão a escrever o Novo Testamento: "os cristãos queriam compreender suas origens e debater seus problemas de identidade". Fico imaginando pobres cristãos pensando sobre sua identidade mau formada enquanto aguardavam para serem devorados pelos leões! Não, grande parte do Novo Testamento foi escrito para defender o cristianismo de heresias que estavam se infiltrando na igreja. Isso não é debater sua identidade, mas defender os ensinos que Deus revelou através dos apóstolos. Eu acredito plenamente que uma pessoa que tem coragem de morrer por suas crenças, morrer uma morte terrível, já tem sua identidade bem formada. Mais uma vez, o pressuposto de que a Bíblia não é uma revelação de Deus, mas simplesmente um livro escrito por homens determina todas as conclusões neste artigo.
Uma alegação muito comum sobre o Novo Testamento é que, já que não possuímos os originais dos autores bíblicos, as copias que possuímos estão cheias de erros, pois por terem sido copiadas a mão, aqueles que faziam as copias alteravam o texto, seja por erros, seja propositalmente.
Um pouco de informação e sempre útil aqui. Temos mais de 5 mil manuscritos gregos dos primeiros seculos do Novo Testamento. Só para se ter noção da importância desse numero, os 6 mais influentes e importantes livros da antiguidade juntos possuem menos de mil manuscritos. E se acrescentar os manuscritos em outras línguas, temos mais de 25 mil cópias. Eles concordam em 95% do texto, o que já e admirável levando-se em consideração que eram copiados a exaustão. Os 5% discordantes se referem em sua grande maioria à ordem de palavras (Cristo Jesus ao invés de Jesus Cristo, por exemplo) e em nenhum momento essas diferenças possuem qualquer influência sobre doutrinas centrais do cristianismo.
Se somente isso não fosse suficiente, mesmo que não possuíssemos tantos manuscritos seria possível reconstruir todo o Novo Testamento a partir dos textos dos pais da igreja, que citavam constantemente os textos que já eram reconhecidos como Escrituras no primeiro e segundo seculos.
Alega-se no artigo que o texto da mulher adultera do evangelho de João foi inserido por um escriba no seculo 3. O motivo para essa colocação é porque nesse período o cristianismo estava se distanciando do judaísmo, então era importante que eles se distanciassem da lei mosaica, que diz que uma adultera deve ser apedrejada. Não existe prova disso. Esse texto não consta em muitos manuscritos e em outros ele está deslocado, colocado em outro lugar. Mas não somente a parte da mulher adúltera, mas todo o texto anterior, que vai de João 7:53 ate 8:11. É possível que esse texto não faça parte do original, mas não temos prova disso, já que alguns manuscritos trazem esse texto. Também é possível que esse texto fizesse parte de uma tradição oral. Mesmo que esse texto não tenha feito parte do original, o que não temos certeza, não podemos afirmar quando foi inserido nem por quem e muito menos o porque, já que qualquer conclusão nesse sentido é totalmente especulativa. Além disso, existe algo que muitos pesquisidores ignoram (por causa de seu pressuposto): Jesus mesmo afirmou que não veio para destruir a Lei, mas para cumpri-la. Por que então Jesus não deixou que aqueles homens apedrejassem a mulher adultera? Porque a Lei possuiu uma única razão, mostrar o quanto somos pecadores e aqueles homens que queriam apedrejá-la se achavam justos. Quando viram, pela mesma Lei que queriam usar para condenar a mulher, que eram tao pecadores quanto ela, não puderam mais continuar.
A formação do Cânone é normalmente mal representada nas revistas e livros, especialmente aqueles que negam a autoria divina da Bíblia. Via de regra alegam que foi um ato do imperador Constantino no concílio de Nicéia e ali pela primeira vez tivemos a lista dos 27 livros. O artigo da SUPER traz pelo menos uma novidade, a historia de Marcião e como ele editou a primeira versão do Novo Testamento, bastante diferente da nossa. Mas como ele era um gnóstico e o gnosticismo foi declarado heresia em 170 AD, ele foi excomungado.
O cânone cristão foi ganhando forma nos três primeiros seculos e foi autenticado pela igreja como um todo no concílio de Nicéia, mas a lista não era nova e não ficaram decidindo o que deveria ou não entrar arbitrariamente. É importante lembrar que os principais livros já estavam definidos pois a igreja como corpo ia compartilhando uma com a outra os texto que possuíam. Uma das convenções que a igreja adotou muito antes de Nicéia foi que para ser considerado como escritura, o texto deveria ter sido escrito por um apóstolo ou sob a orientação de um. Por isso os quatro evangelhos que conhecemos foram facilmente aceitos. Mateus e João escritos diretamente pelos apóstolos e Lucas e Marcos sob a orientação de um apóstolo (Paulo e Pedro, respectivamente). Atos e as cartas paulinas foram rapidamente adicionadas como Escrituras. Um outro critério era que o texto pretendente a ser considerado inspirado deveria ter sido escrito pouco tempo depois de Cristo. Por isso nenhum escrito depois do primeiro século (ou melhor dizendo, apos a morte dos apóstolos) foi aceito. Já ao final do primeiro século, uma boa parte do cânone cristão já estava definido. E as Escrituras hebraicas sempre fizeram parte desse cânone. E mais uma coisa importante, o gnosticismo não foi declarado heresia somente em 170, na verdade João já combatia essa heresia, como podemos confirmar em 1 João onde diz que todo aquele que nega que Cristo veio em carne não é de Deus. O gnosticismo pregava que Cristo não tinha vindo em carne, porque a carne representa o mau.
Quando o concílio de Nicéia se reuniu em 325, poucas dúvidas haviam sobre quais livros estariam oficialmente no que temos hoje como Novo Testamento. Alias, a principal razão para a convocação do concílio não era nem estabelecer o cânone, mas sim lidar com a questão Ariana, uma heresia que o bispo Ario estava espalhando, dizendo que Cristo havia sido criado por Deus, não sendo eterno como o Pai. Ario foi chamado para explicar sobre essa questão e como não se arrependeu por ensinar heresias, foi excomungado. Ali se criou o credo de Atanásio, uma linda declaração de fé que todo cristão deveria ler ao menos uma vez na vida. Na verdade, a lista com os 27 livros foi definida por Atanásio em 365 e confirmada no concílio de Constantinopla em 381.
A autoria de Paulo sobre um trecho de uma de suas cartas é questionada porque o texto parece ser bem machista e Paulo viveu em uma época que o cristianismo era bastante favorável para com as mulheres. Mais uma vez, a especulação e o pressuposto (sempre ele) definem a autoria de um texto. Duas coisas a considerar: primeiro, Paulo era fariseu antes de se converter e para os fariseus a mulher era menos do que um ser humano. O testemunho de uma mulher, por exemplo valia metade do testemunho de um homem (interessantemente, mesmo sabendo disso, Jesus primeiro apareceu para mulheres quando ressuscitou. E tem gente que diz que a Bíblia e machista...). Segundo, em outros texto Paulo compara a relação Cristo/igreja com a relação marido/esposa sendo homem como Cristo e a mulher como a igreja. O homem tem autoridade sobre a mulher como Cristo tem sobre a igreja e o homem deve amar a mulher como Cristo ama a igreja, a ponto de morrer por ela. Isso e machismo?
Uma questão importante que o texto traz é a questão da tradução e existe uma tendência no texto a dizer que a Bíblia foi traduzida de forma errada ou ao gosto do teólogo de plantão. É verdade que algumas traduções são bastante tendenciosas, mesmo algumas modernas (creio que a maior de todas é a Tradução do Novo Mundo das Testemunhas de Jeová) mas uma coisa é ser tendencioso, outra coisas é buscar ao máximo o verdadeiro significado de um texto. E é aqui que o texto novamente erra (ou age de forma tendenciosa). Um exemplo é a palavra metanóia, que foi traduzida na Vulgata como penitência e que Lutero traduziu como arrependimento (reviravolta no artigo da SUPER). Etimologicamente falando, metanóia quer dizer “voltar atrás”, “mudança de caminho ou de oponião”. Ela sempre teve essa conotação nos escritos da antiguidade. Traduzi-la por arrependimento (ou mesmo reviravolta) faz mais sentido se observarmos a raiz da palavra e o conjunto dos ensinos do Novo Testamento do que a palavra penitência. O grande William Tyndale traduziu a palavra ecclesia por congregação, ao invés de igreja e segundo o artigo foi queimado por isso. Na verdade, o fato de ter feito a tradução foi o que o levou para a fogueira, pois isso era totalmente proibido. Ecclesia pode ser traduzida tanto por igreja quanto por congregação, já que possuem o mesmo significado. Ecclesia quer dizer ajuntamento de pessoas, reunião, aqueles que são chamados para se unirem. Aproveitando, pesquisem sobre Tyndale, a historia desse cristão é fantástica!
O artigo termina com o questionamento sobre como devemos traduzir a Bíblia e como devemos lê-la. Devemos seguir o literalismo e voltar as antigas práticas do VT ou devemos ter uma visão mais alegórica, como um livro sobre a jornada do homem em busca de Deus? O que vai definir a minha abordagem das Escrituras é a minha crença sobre sua inspiração. Se a Bíblia é a palavra de Deus para o homem, na qual ele se revela e revela sua vontade para todo nos, então, eu vou lê-la como um todo e como um todo obedecê-la. Isso quer dizer que devo sair por ai apedrejando adúlteras? Não, isso quer dizer duas coisas: primeiro, eu não vou ficar pensando “o que esse texto quer dizer para mim”, não, já que a Bíblia é a revelação de Deus para o homem eu vou lê-la e buscar entender o que o texto significa para seu autor. O que Deus quis dizer naquele texto? Como os leitores originais entendiam esse texto? É assim que eu devo entendê-lo. Isso é regra de hermenêutica numero 1. Segundo, estamos sob uma nova aliança e todo o Velho Testamento deve ser interpretado através do Novo. Cristo cumpriu a Lei por nós, por isso não estamos atrelados a ela. Precisamos ter nossa soteriologia bem definida para poder ler as Escrituras e fazer o que ela diz. Minha sugestão, compre um bom livro de hermenêutica. Vai ter fazer maravilhas.
Tenho a mais absoluta certeza que esse não é o ultimo artigo a atacar a autoria divina das Escrituras. Periodicamente vamos ser abordados sobre isso, especialmente aqueles que compartilham sua fé e fazem evangelismo nas ruas. Mas é importante que estejamos prontos para dar a razão de nossa fé e estejamos preparados, pois não cremos em um conto de fadas sem fundamentos, mas sim em um Deus que se revelou para a humanidade através das Escrituras. Meu irmão, tenha certeza que a Bíblia é a palavra de Deus.
Espero sinceramente que esse post tenha ajudado.
Caros Maurilo & Vivian
ReplyDeletePara quem não está condicionado á partida, por conceitos e preconceitos que inviabilizem o pensamento racional, livre e isento, definir o seu texto como errado torna-se ingrato porque ele simplesmente não faz sentido. Pelo que concluir que “a ignorância poderá ser de facto bastante assustadora” será apenas um pormenor.
Você está enganado, só não sei se por ignorância, ou se mente deliberadamente.Se for o primeiro caso, estará sempre a tempo de corrigi-lo. Se for o segundo, é lamentável que tente justificar os seus preconceitos mentindo.
A defesa da sua “tese” é efectuada de forma deficiente, fértil em falsidades e com argumentação circular, ou seja com argumentos do próprio livro que se pretende refutar.
É normal que quem assuma uma postura autista de defesa do indefensável ignore o que os outros dizem e teime em fingir que é verdade o que gostaria que fosse verdade.
A “bíblia” é apenas uma colectânea de obras, escolhidas por conveniência, escritas pela mão do homem e que ao longo dos tempos terão sido sujeitas a revisões, correcções, edições e censuras bastante drásticas. Tal como existe hoje, a “bíblia” é o produto de um processo selectivo mais ou menos arbitrário que podia incluir muitos mais livros e escritos do que inclui, alguns com uma pretensão perfeitamente válida de veracidade histórica.
Em 367 d.C., o Bispo Atanásio de Alexandria compilou uma lista de obras a serem incluídas no Novo Testamento. Esta lista foi ratificada pelo Sínodo da Igreja em Hippo, em 393d.C, e novamente pelo Sínodo de Cartago, quatro anos mais tarde.
Foi nestes sínodos, que um conclave de eclesiásticos decidiu “infalivelmente”, que certas obras reunidas deveriam formar o Novo Testamento – tal como o conhecemos hoje –, enquanto outras, soberbamente ignoradas ou deliberadamente excluídas poderiam ter sido incluídos.
Os quatro evangelhos (canónicos) escolhidos em detrimento de muitos outros (apócrifos) terão sido uma tentativa de correcção ou refutação, por conveniência, ao “evangelho de Tomé”, o mais antigo dos evangelhos, rejeitado pelo conteúdo comprometedor que permite diferenciar entre o “Jesus” da história e o “Cristo” da fé.
É óbvio que estes “evangelhos” (apócrifos) sejam motivo de preocupação para a igreja, pois neles, Jesus diz: "Não construam uma igreja em cima do meu nome", enquanto por outro lado, pela Bíblia diz a Pedro que seja a base de sua igreja.
Poderíamos argumentar sobre as razões porque foram assim classificados, canónicos ou apócrifos, bem como falar de partes desaparecidas e outras convenientemente subtraídas.
A interpretação literal da “obra” é efectivamente um erro, não só pela sua antiguidade mas também por estarem desfasados da realidade actual, escrita por gente com conhecimentos limitados numa área limitada e remota. Assim sendo, falar de “evangelhos” e de verdade é tentar justificar o injustificável ou promover uma regressão ao obscurantismo, pois a “terra” já deixou de ser o centro do universo, passando a estar no extremo de uma galáxia e “Adão e Eva” já passaram a mitologia, porque se não foram primatas terão sido parentes muito próximos.
Existem também passagens das “escrituras” que nos condicionam pela sua barbaridade. Como o Levítico que sugere que a escravidão é aceitável ou o Deutoronômio que recomenda o apedrejamento do filho, do pai, da mãe ou do irmão se estes se desviarem do caminho da fé.
[Um “deus” que recomenda o apedrejamento de um filho… o maior favor que poderia conceder á humanidade era deixar de existir.]
O comentário já vai longo, pelo que me penitencio, mas falar de religião ignorando a historicidade é ignorar a existência de um abismo entre a seriedade e a frivolidade.
Caros Maurilo & Vivian
ReplyDeleteComecei a comentar e quando dei conta já o texto estava enorme, pelo que decidi dividi-lo em três partes que, não só facilitarão a leitura e interpretação como tornarão mais fácil qualquer crítica ou refutação. Então vamos a isso:
“… O homem crente é necessariamente um homem dependente… ele não pertence a si mesmo, mas ao autor da ideia em que ele acredita. …” Nietzsche
Quando se criticam posições que consideramos erradas ou irracionalistas, surge a ideia de que tal tipo de crítica é uma forma de tentar impedir o direito dessas pessoas a pensarem e divulgarem o que pensam e divulgam.
Infelizmente, muitos crentes têm a ideia errada de que uma falsidade se torna verdadeira por acreditarmos fortemente nela e, teimando em privilegiar a ignorância, professam uma ideologia que se destaca pela prepotência com que condicionam todos aqueles que se atrevem a denunciar a má-fé e os completos disparates da sua argumentação e pensamento.
Mesmo assim, acredito que a aceitação da autoridade do testemunho alheio – sem provas e sem questionar –, seja uma opção e um direito que assiste a todo e qualquer cidadão livre (?) que possa escolher aquilo em que deve acreditar.
Eu não critiquei o que quer que seja, limitei-me apenas a denunciar e corrigir as inanidades e barbaridades debitadas por alguém que passando a ver pela fé terá fechado os olhos á razão. Apenas contrariei a promoção e divulgação de visões erradas sobre delírios irrealistas que apenas favoreciam a desinformação e tornariam inócua a liberdade de discussão.
Não devemos esquecer que as pessoas acreditam em tolices porque nunca ninguém lhes disse, com distanciamento e imparcialidade, que são tolices e porquê.
Falar de religião é muito mais do que falar de cristãos e cristianismo.
Falar de religião é recuar aos primórdios da humanidade, é recuar ao início, ao “verbo”: “…no início era o “caos”, uma informe e confusa massa, mero peso morto, contudo jaziam latentes as sementes das coisas…”, bastante antes do tempo em que Deus era “Mulher”.
Falar de religião é falar da “deusa mãe”, Inanna… falar de fertilidade… e todos os outros deuses que fizeram da ilusão colectiva uma religião…
Falar de religião é também falar do “deus abraâmico” o deus uno e único que está na base das três religiões monoteístas e que é o legado do povo hebraico ao mundo, mas só a partir do século VII-VI a.C.
Falar de religião é, acima de tudo, saber distinguir entre “história” e “doutrina”.
Caros Maurilo & Vivian (continuação)
ReplyDelete“Se não tivermos a certeza absoluta de algo, então tenhamos a coragem suficiente para duvidar desse algo.” Emmanuel Kant
A “bíblia” não contém qualquer mensagem nem será um “ditado” de “deus”, pois nunca ninguém terá chegado á fala com “ele” [… a existência de deus é uma questão de fé e não de razão…]. Quanto muito, e em sentido figurado – tendo em conta a sua condição de crente e por mera cortesia –, será a palavra de “deus” por palavras do homem.
Segundo aquilo que está publicado por investigadores e autoridades reconhecidas e credíveis, e se aprende em história da religião, o “evangelho de Tomé” (50d.C.) é não só o mais antigo como terá sido a razão da existência dos outros 4 [canónicos] (110-150a.C.) como correcção, inspiração ou refutação.
Esta obra (uma cópia em Grego, o original em Copta) terá sido considerada [apócrifa] não só porque permite diferenciar entre o “Jesus” da história e o “Cristo” da fé, pelas narrativas incómodas e comprometedoras da sua infância, mas acima de tudo pela sua introdução –
“Estas são as palavras secretas que o Jesus vivo proferiu e que o seu irmão gémeo Judas Tomé anotou” –, que terá suscitado algum cepticismo.
Aflorando superficialmente o início do “cristianismo”, propriamente dito, terá sido Ireneu presbítero de Lyon (180dC) e os seus seguidores que auto-proclamando-se guardiães da única “fé verdadeira “ estabeleceram, depois de “confrontos” com o movimento gnóstico, a existência de uma única igreja, rejeitando como heresia todas as outras concepções.
Em 325 d.C., decretaram a “divindade” de Jesus num confronto que os opôs a Arius e seus seguidores, num Concílio de Niceia, onde Constantino e a burocracia da igreja estariam mais preocupados com a sobrevivência da instituição do que com a fé e as almas dos crentes…e onde a teologia terá sido escrita sob o toque aguçado da espada.
Em 367 d.C., o Bispo Atanásio de Alexandria compilou uma lista de obras a serem incluídas no Novo Testamento. Antes dessa altura segundo testemunhos do próprio Ireneu circulavam numerosos evangelhos bem como muitos outros ensinamentos.
Daí que a existência destes documentos serem anteriores á publicação da dita colectânea.
Caros Maurilo & Vivian (continuação)
ReplyDelete"É comum que novas verdades comecem como heresias e terminem como superstições" Thomas Huxley.
O texto já vai longo, uma vez mais me penitencio, mas poderíamos argumentar sobre muito mais, por exemplo sobre o fragmento em falta no Evangelho de Marcos – que teria sido propositadamente suprimido –, e descoberto em 1958 pelo professor Morton Smith da Universidade de Columbia, num mosteiro perto de Jerusalém.
Ou se preferir poderemos comentar sobre a carta descoberta junto desse mesmo fragmento, (o episódio de Lázaro), endereçada pelo Bispo Clemente de Alexandria a um tal de Teodoro, cujo conteúdo fascinou a comunidade científica pela sua filosofia:
[ “Se o nosso oponente disser a verdade, devemos negá-la e mentir para o refutar.” ]
Poderemos “discutir” também o Jesus da história, assim como o Cristo da fé. O rei dos judeus ou o filho do carpinteiro. Bem como todo o esoterismo e misticismo envolvente.
Poderemos também reflectir sobre as vertentes filosóficas á interpretação da frase cuja autoria é atribuída a Jesus: [“…e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará…”]
Limitarmo-nos á doutrina sem constatar as evidências que estabeleçam a sua verdade é, permitirmos que a “génese da religião” – o medo, a ignorância e a impotência –, nos induzam a acreditar em algo que será suposto existir, segundo Orígenes (bispo), como puramente imaterial.
Acreditar que a geologia da Terra terá ficado a dever-se ao dilúvio é uma barbaridade do tamanho do mundo. Permita-me sugerir a leitura de algo sobre “Zonas de Subducção e Tectónica de Placas” para não ficar vulnerável a perguntas como: O que aconteceu depois a toda aquela água? Será que “deus” bebeu? Ou pedirem esclarecimentos sobre o modo como os vírus e as bactérias terão sido acomodados na “arca de Noé”, se é que viajaram! Se terão viajado aos casais? Ou em que consistia a sua dieta?
E por último, e não menos importante, para lhe dizer que “as trevas” são a razão da existência do “divino”, porque sem o inferno eterno e medonho a religião não teria razão de existir.
Como é lamentável viver com a mente acorrentada pelo medo de punição em outro mundo.
Caros Maurilo & Vivian
ReplyDeleteA religião nunca será capaz de reformar a humanidade porque a religião é uma escravidão. Ingersoll
Direitos humanos aparecem primeiramente na Lei de Moisés.
Ao jeito de prefácio deixe-me que lhe diga que a “Igreja” (e quando digo igreja refiro-me ao Vaticano) recusou sempre assinar a “Carta dos Direitos Humanos”.
Fazendo uma análise específica á parte final da sua argumentação á minha refutação, [começando em: “Para não agredir mais seus ouvidos com a verdade…”] pretendo apenas desmistificar as contradições da sua argumentação.
Você não agride, pode estar á vontade, porque você está longe da verdade. A crença é um acto de fé e acreditar em algo com base na fé é acreditar em algo sem ter razões que estabeleçam a sua verdade. A nossa convicção deve alicerçar-se naquilo que conhecemos e compreendemos e não na fé ou crença cega porque toda a escolha baseada no desconhecimento é na realidade uma mentira. Fingir que é verdade o que gostaríamos que fosse verdade é uma admissão de ignorância e um embuste vestido enganadoramente de explicação.
Na morte, através da crença, seremos sempre escravos da superstição porque teremos a mente acorrentada pelo medo de punição em outro mundo. Enquanto que sem crença a morte será apenas o fim, o direito ao descanso eterno.
Permitam-me terminar com um “escrito” gnósticos (que interpreto como um “lamento”), com mais de 2000 anos e descobertos recentemente em Nag Hammadi:
“… aqueles que se limitam a acreditar na pregação que ouvem, sem se colocarem questões, e aceitam o culto que lhes é apresentado, não apenas se mantêm eles próprios ignorantes mas caso encontrem alguém que sinta dúvidas sobre a sua salvação, agem imediatamente de forma a censurá-lo e silenciá-lo…”
Caros Maurilo & Vivian
ReplyDeleteAntes de comentar permitam-me esclarecer essa dúvida sobre a razão porque me “penitencio”. Faço-o como pedido de desculpas, não pelas minhas ideias e meus ideais mas pelo tamanho dos textos, por serem demasiado extensos, o que pode torná-los aborrecidos.
Eu te apresentei evidências da minha crença nas Escrituras como Palavra de Deus.
Não é verdade, você apresentou uma justificação baseada na autoridade do testemunho alheio.
Eu costumo dizer que a simples razão de saber se “deus” existe não é susceptível de discussão racional por ser uma questão de fé. Afinal que razões ou provas podemos ter que garantam a existência de “deus”? A única razão será “acreditar” na autoridade do testemunho alheio, ou seja, nos “escritos” do passado ou na palavra daquele que lhe incute o “vírus” da fé, o “pastor” – sendo que a fonte do conhecimento, do “pastor” é a mesma que a sua.
Se ler os meus comentários com atenção vai confirmar que eu não disse que a crença era irracional, mas sim que: “… Acreditar em algo com base na fé é acreditar em algo sem ter razões que estabeleçam a sua verdade …”. Ou seja, você acredita em algo sem qualquer prova empírica que possa comprovar a veracidade daquilo em que crê. Listar convicções pessoais, experiências subjectivas, interpretações da irracionalidade, não são provas sérias.
A fé é uma crença com elevado grau de convicção na verdade de uma afirmação, mas sem provas que confirmem essa convicção e mesmo perante provas contraditórias.
A fé não pensa, pelo contrário, é escrava da intolerância, corrói a própria possibilidade da discussão de ideias e inviabiliza o que é racional bem como o pensamento livre e isento.
“Não existem provas de que um grupinho de homens sem escrúpulos…”
Há duas formas de olhar o mundo – através da fé e superstição ou através do rigor da lógica, observação e evidência, por outras palavras, através da razão. A razão e o respeito pelas evidências são preciosas, a fonte do progresso humano e a nossa salvaguarda contra fundamentalistas e aqueles que lucram pela deturpação da verdade.
Eu falei-lhe de história, factos que tiveram lugar em determinada data e que constam de compêndios credíveis escritos por investigadores, professores e historiadores e aceites pela comunidade científica. As suas convicções e opções são-me indiferentes, ser “escravo da superstição” é um problema que terá que suportar.
“…você vai encontrar muitos factos sobre criacionismo…”
Não sou crente e não me incomoda o facto de se acreditar em superstições. O que me incomoda é promover-se a arbitrariedade com o fim de justificar uma crença através de demagogia, ilusão, improbabilidade e mentira. Uma crença justificada em algo que não se pode questionar não é caminho para verdade nenhuma é, no mínimo, aceitar ideias agradáveis ou confortáveis, por serem agradáveis ou confortáveis, sem nos darmos ao trabalho de tentar saber se são verdadeiras.
Considero o “criacionismo” uma fraude, uma atitude fundamentalista com o objectivo de impor a existência de um “deus” e a pretensão de transformar a sociedade em estado submisso, pois eles não estão preocupados com a verdade mas apenas com a imposição da sua fé.
Os delírios criacionistas além de serem uma pérola redonda da exegese evangélica adoptam uma atitude de negação da ciência, como tal da evidência, o que é apanágio das religiões. Torna-se preocupante que alguns extremistas religiosos pretendam fazer passar a ideia terrível de que tudo é aceitável e de igual valor.
Acreditar que a história da humanidade resume-se a apenas 6000 anos é uma aberração patente no espírito do museu criacionista e desmistificada á entrada, na forma de aviso:
[“… Não pense, escute somente e acredite …”]
Esclarecendo I
ReplyDeleteUm dos fascínios da religião assenta também neste tipo de justificações informais e pouco racionais, repetidas de forma tímida e estereotipada, mas sempre em desespero de causa.
Eu li o texto do Macedo que, apesar de bem escrito, é intelectualmente desonesto porque é portador de uma mensagem que, suave e maliciosamente, promove uma regressão ao obscurantismo rejeitando a discussão pública e isenta de algumas evidências.
As pessoas, na sua maioria, nunca souberam praticamente coisa alguma excepto o que é estritamente necessário para a sua vida quotidiana, sendo por vezes vitimas da desonestidade intelectual e insuficiente amor á verdade por parte de terceiros que, através de estratégias, pretendem apenas abrir uma porta á arbitrariedade, de modo a fazer parar todo o pensamento e se pense aquilo que se quiser sem nos preocuparmos, por conveniência, que não existem verdades fáceis que possamos aceitar como definitivas.
Os argumentos de autoridade quando usados por quem se encontre condicionado á partida por simpatias, preconceitos ou superstições tem apenas a intenção de minimizar as capacidades cognitivas dos crentes, impedindo-os de submeter as suas dúvidas á discussão pública, na procura de eliminar o erro e a ilusão. A pior proibição do pensamento não é a explícita, mas a que se insinua e oculta, e que de uma forma velada substitui a discussão de ideias pelo formalismo de ensinar a repetir o que por conveniência é propalado pela doutrina.
Por vezes a diferença entre a realidade e a aparência das coisas é demasiado ténue ou quase inexistente, e no debate entre crentes e não-crentes (ou desinteressados) é frequente, quando estes últimos baseiam os seus argumentos em factos históricos, o uso da “falácia do espantalho” que consiste em desviar a discussão para assuntos laterais, fugindo assim à discussão do que está em causa com um ou mais argumentos sem nada a ver, com especial predilecção por aqueles que podem ser interpretados tendenciosamente por uma faixa do público alvo. Assim, passam a imagem de que os argumentos do oponente foram rebatidos quando na realidade nem sequer os abordam.
Eu li o texto do Macedo e sei exactamente o que ele pretende. Quando diz ”Penso que compreendi a linha de pensamento de Asmodeu.” ele está apenas justificando - a sua presença, a sua opinião -, o seu texto, que tem como objectivo, não só a pretensão de efectuar o policiamento da mente através da autoridade que lhe possam atribuir, mas também pretende ter a última palavra e finalizar a argumentação. A estratégia é simples, [1] desacredita-se o autor dos argumentos, [2] auto-promove-se a autoridade, [3] tem-se a última palavra.
Gostaria de pedir desculpa por não ter ainda respondido aos últimos comentários. Esse final de ano está sendo bem corrido e mesmo a atualização do blog está um pouco comprometido. Por favor, me perdoem.
ReplyDeleteEspero em breve continuar com nosso debate.
Se a "palavra de Deus" está escrita num livro, para que possamos recebê-la, precisamos saber ler, certo?
ReplyDeleteVamos olhar pra história da humanidade. Retornemos para o ano de 1900, daí pra trás.
NINGUÉM SABIA LER!!! Somente uma ínfima parcela da população tinha acesso à leitura. Então só uns poucos letrados teriam direito de receber diretamente a palavra de Deus? Os outros teriam que a pedir emprestado?
Se existe algo que possa ser chamado de "a palavra de Deus", ela não pode estar num livro!
A palavra de Deus tem que estar na própria VIDA!
Não é preciso ir em Igrejas nem ler livros cheio de absurdos!
E, se for pra indicar um livro que seja a palavra de Deus, por que tem que ser a Bíblia?
Por que não podem ser os Vedas, o Dhammapada ou o Tao Te King, que são mais antigos e mais profundos (na minha opinião)?
Olá!
ReplyDeleteEu desisti de debater Bíblia e Deus. Não adianta argumentar, por que ninguém convence ninguém. Todo mundo tem argumento e ninguém sai convencido.
Só digo aos amigos que não crêem na Bíblia e nem em Deus o mesmo que disse um outro dia: Se Deus existe, e você não crê nele, o maior prejuízo é seu. Se ele não existe e você sabe disto, sorte sua, pois assim você não vai passar a vida toda rezando, orando, enfim falando consigo mesmo achando que alguém mais está ouvindo.
Crer em Deus, necessita de uma coisa chamada REVELAÇÃO, que não significa fechar os olhos, mas entender o que eles não vêem.
Desculpem-me pelo exemplo pobre, mas, o mundo do peixe é o seu aquário, ele só vê aquilo e só aquilo conhece.
Para quem, como eu, desistiu das evidências, só resta uma opção para convencer a acreditar: A experiência.
Experiência não se alcança por leitura, com aulinhas em faculdades, enfim, tudo isso é muito bom, mas as coisas mais importantes da vida se aprende sozinho, por instinto, ou por observação.
Deus só se revela a quem se refere a ele por baixo.
Quem tem coragem de olhar para o céu e pedir a Deus que ele se revele acaba conhecendo-o.
Quem acha que isso é coisa de louco que não tem o que fazer, continua assim, sem fé em Deus mas pertencendo através da crença a teorias que são muito mais absurdas do que crer nEle.
Luis Paulo.
A bíblia não adula o ego humano.
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